Semana 27 – Este fim-de-semana a equipa viajou do inferno até ao céu em apenas 40 minutos. De regresso ao momento competitivo, os desafios eram bastante interessantes, porque fomos colocado perante a experiência de voltarmos a encontrar várias equipas com quem tínhamos perdido há algumas semanas atrás. Para mais, no intervalo entre fases, várias jogadoras puderam ter experiências de competição noutros níveis, o que foi sendo trabalhado, a nível de treino, para finalmente dar sentido à expressão treinar para competir.
No entanto, o percurso que agora começa a entender-se nos jogos, parece feito ao contrário. Ou seja, na cabeça das jogadoras, não é o treino que fornece a pista para aquilo que realizamos nos jogos, mas, noutra direção, são os jogos que começam a fornecer sentidos para o que não se compreendia nos treinos. Na última partida da fase de competição anterior, tinha havido algum espanto, quando, no momento de analisar o que se passara dentro de campo, a maior parte das jogadoras não tinha entendido o que tinha feito com sucesso. E então dedicamos duas semanas a demonstrar, através de exemplos concreto, aquilo que acontece nos jogos e se trabalha nos treinos. O facto de voltarmos a defrontar equipas que já conhecemos, permitem ainda adicionar algum trabalho de scouting que aprofunda opções e permite um caminho mais claro para a resolução de dificuldades.
Já sabemos que nos escalões de formação mais jovens, a constância não é regra. As atletas estão ainda em aprendizagem de regras, dependentes das decisões e permissões dos pais (quanto ao número de presenças em treino ou disponibilidades horárias para treinos e jogos), estando ainda demasiado expostas aos calendários escolares (na mesma semana, uma série de testes escritos e testes físicos deixaram várias jogadoras de rastos…).
Como equipa, oferecemos dez minutos de graça ao adversário, o que nos deixou a uma larga distância pontual logo no fim do primeiro período. A equipa já tinha passado por isto antes, mas ao contrário de outros dias, não se ouviu no banco um reparo que fosse sobre o jogo estar perdido. Ainda antes de sabermos que éramos capazes, já alguma coisa denunciava que se poderia virar o resultado. Aliás, estava à frente dos nossos olhos, porque as indicações que tinham sido dadas sobre o adversário exprimiam-se pormenor por pormenor dentro do campo.
Ao intervalo foi preciso fazer uma intervenção especial. Chamando à responsabilidade coletiva todos os que não tinham estado à altura na primeira parte – não por incapacidade, mas por falta de entrega à tarefa – ressalvando aqui as jogadoras que tinham tentado tudo e se tinham sentido algo desprotegidas pela equipa. Uma intervenção ao nível psicológico, reforçando o papel de liderança na equipa, puxando pela responsabilidade do resto do grupo. Noutras situações, ao longo deste ano, tentámos chegar lá ao responsabilizar diretamente as líderes pelo que os resto das jogadoras davam à equipa. Neste encontro, era o momento de experimentar outra estrada.
A verdade é que a resposta foi certeira. A equipa encontrou-se na segunda parte. As jogadoras não demonstraram o mínimo receio de revelar os seus estados, físicos ou de espírito. Em campo, sentiram sempre que poderiam fazer melhor, chegar mais longe, arriscar a ganhar. E a partir do momento em que a equipa passou para a frente, mesmo sem que isso se expressasse no resultado – a maior diferença foi aquela que acabou registada no marcador final – o controlo do jogo foi conseguido por uma enorme resposta mental da parte do coletivo. Perante a dificuldade, o encontrar dentro de si uma resposta para o ultrapassar. Nos jogos mais difíceis, aquilo que se ganha tem, no entanto, muito mais do que os meros números do resultado. São experiências fortíssimas de aprender a fazer o nosso caminho como nós o queremos fazer. Foi isso que aconteceu.
Amanhã há treino.