Esta é a crónica que eu preferia não escrever. A crónica que começou nas ruas de Marselha, onde não se percebe se os conflitos têm origem nos grupos de ingleses ou russos que invadiram a cidade, ou ainda nos franceses que não estão para aturar as especificidades destes visitantes. Uma crónica que, ao que parece, também já tem um parágrafo em Nice, onde norte-irlandeses e polacos se juntaram à coreografia, e que marcou presença no Stade Vélodrome no final do encontro.
A imagem de Joe Hart, virado para a bancada, provavelmente na direção de familiares, a dizer “be safe, stay here”, demonstra que até para os jogadores as atenções já se desfocaram. Este que deveria ser o Euro mais seguro de sempre, devido às ameaças terroristas que levam a França a estar sob um estado-de-sítio declaro pelo governo, tem os seus primeiros dias não pelas ameaças invisíveis, mas pelo regresso do mais puro e idiota hooliganismo.
É estranho que num país onde as forças militares podem policiar as ruas a seu bel-prazer, onde já houve gente presa, nestes últimos meses, por delito de opinião, não exista a capacidade para manter separados os respetivos grupos de diferentes nacionalidades que se deslocaram para o país devido ao Europeu. É estranho e faz-nos duvidar de todo o discurso sobre a segurança que nos tentam vender para a militarização da União Europeia.
Mas desenganem-se aqueles que ligam estes eventos ao futebol. Esta gente, que eu não sei quem será, não tem nada a ver com futebol, não gosta de futebol, não se preocupa com a bola, não quer saber de nenhum resultado. Tem objetivos e prioridades próprias que revelam, para mim, apenas uma evidência. Que a estupidez consegue, sempre, ultrapassar os seus próprios limites.
Repito. Isto não é futebol.