16 de junho de 1996, sentado no sofá da sala, estarrecido. Se o futebol era já uma paixão, ao tempo, nesse dia começou a transformar-se em ciência. O agente dessa mudança, Matthias Sammer, o antigo internacional da RDA, descoberto em tempos na revista Kicker ainda vestido com o amarelo do Dynamo Dresden. Mas havia uma longa distância entre as paixões de revista e a certeza da observação, treinada tantas vezes na largura do relvado do Campo Manuel Marques. A consciência das distâncias, das retas e dos ângulos, da ocupação de todos os espaços, os segredos do seu aproveitamento.
Neste dia, frente à Rússia, no jogo mais fácil da caminhada até ao título, aconteceu um golo que ainda hoje me ilumina como um segredo descoberto. Matthias Sammer a dar início a uma jogada ainda perto da linha da sua área, num passe que conquista a profundidade do meio-campo, correndo quase em linha reta por todo o seu comprimento enquanto a bola serpenteia pelos pés dos seus companheiros, para surgir na área a finalizar. Tão simples, tão elaborado, tão genial. Matthias Sammer pegou-me pela mão e mostrou-me que o futebol é, sobretudo, inteligência. E que a maior finta é aquela que sabemos desenhar coletivamente de modo a ultrapassar qualquer barreira montada pelo adversário.
A este golo devo muito daquilo que admiro.