1988 pode ter ficado tingido a laranja, na nossa memória, mas é também o ano da última grande prestação da União Soviética numa prova internacional. Orientada por Valery Lobanovsky, que repartia a responsabilidade entre um Dínamo de Kiev que encantava a Europa e a seleção do seu país, os vermelhos terão sido injustamente deixados de lado de uma história que poderia bem ser a deles.
A equipa soviética não jogava um Europeu desde 1972, depois de ter sido campeã europeia em 1960 e ter jogado as finais de 64 e 72. Também em Mundiais o seu período de glória tinha ficado por essas décadas, com um quarto lugar em 1966 e três presenças em quartos-de-final em 58, 62 e 70. Mas com Lobanovsky a equipa já tinha feito uma aparição respeitável no Mundial de 86 e partia agora à reconquista do ceptro europeu.
No estilo, o conjunto soviético tinha muitas sementes daquilo é hoje o nosso futebol. Rigor defensivo, com a colaboração de todos os jogadores nesse processo, seguido de ensaiadas transições, com ocupação dos espaços, em busca de situações de vantagem perto da área adversária. Era uma transposição de muito do que se conhecia de outros jogos coletivos e que na União Soviética era estudado ao pormenor. Ainda que muitos o tentem colocar como o outro lado do futebol total dos holandeses, a necessidade de mestria era semelhante em ambos os sistemas.
Na Alemanha, a União Soviética até começou por vencer a Holanda, por 1-0, seguindo-se um empate a uma bola com a República da Irlanda. O melhor momento dos soviéticos surgiu no jogo decisivo da fase de grupos, onde a sua transição apareceu para derrotar por 3-1 a Inglaterra, seguindo-se mais um fantástico jogo onde venceu a Itália por 2-0. Infelizmente para esta equipa que tinha, no seu plantel, todos os onze habituais titulares do Dínamo de Kiev, o seu dia mau chegou na final que acabaram por perder.
Inevitável, no entanto, que fique na memória um grande guarda-redes como Rinat Dassaev ou o duro Oleg Kuznetsov, um dos líderes defensivos. A sobriedade de Vasili Rats ou Oleg Mykhaylychenko no meio-campo, onde a criatividade de Sergei Aleinikov imperava. As movimentações de Igor Belanov ou a elegância de Oleg Protasov. Na última grande demonstração de qualidade futebolística da União Soviética, a escola de onde saíram tantas das influências fundamentais do jogo que jogamos hoje, também o drama de perder uma final não poderia faltar.
Assim se escrevem as grandes histórias.