Não haverá treinador que não pense e repense a questão dos jogos amigáveis em início de temporada, e se muitos se deixarão apenas ir pela necessidade de colocar os jogadores em campo para entender se os treinos estão, de facto, a passar o programa com o modelo e a forma de jogar pretendida, outros, pela experiência acumulada ao longo dos anos, já utilizarão estas partidas com objetivos mais aprofundados e predefinidos.
A questão ganha, no entanto, outros contornos, quando estás numa equipa onde aqueles que te seguem pensam que todos os jogos são para ganhar. Ou seja, mesmo aqueles jogos em que os teus objetivos passam por entender reacções individuais passam a ter um objetivo coletivo que, com alguma segurança, sabes ser praticamente impossível de cumprir. É aí que começa a arte do jogo amigável.
O AS Monaco e o Sporting aceitaram disputar uma partida no final da tarde de ontem. Escutamos palavras dos respetivos treinadores para entender o que estava em causa. Para Leonardo Jardim, ao fim de dezoito dias de preparação, este é já o seu quinto jogo, sendo bom ter em conta que dentro de treze ou catorze dias os monegascos terão o seu primeiro jogo oficial, a contar para as pré-eliminatórias da Liga dos Campeões. Assim decidiu enfrentar um adversário com mais talento do que tinha feito até aqui e terá encontrado uma ou outra dificuldade que eleva o nível da preparação, assegurando, ao mesmo tempo, o aumento da confiança do grupo, por conseguir ter rendimento mesmo num teste mais elevado.
Para Jorge Jesus, ao fim de duas semanas de treino, este é apenas o seu primeiro jogo, tendo referido o técnico a importância de elevar o ritmo dos jogadores confrontando-os com equipas que estão mais adiantadas na sua preparação. No Sporting pode ter-se conquistado o objetivo de fazer os seus jogadores “correr mais”, mas tendo em conta que há um modelo e um pensamento que deve ser testado, expô-lo ao erro desta forma deverá ter tido muito mais por analisar do que simplesmente esse “correr” que nos foi dado nas respostas aos jornalistas. Porque é essa análise mais profunda na reação ao modelo – Barcos já teve escola disso no ano passado, mas Petrovic só agora se familiariza com o mesmo, só para citar dois exemplos – que tornaram este teste fundamental para a equipa técnica. Se formos a olhar para o resultado, parece que esteve tudo mal, mas talvez o resultado seja o que menos interessa nesta altura.
Agora, sendo treinador do Sporting, pode-se pensar assim? A arte do jogo amigável diz que não. Diz que não podemos deixar de, enquanto avaliamos os pontos que temos a avaliar enquanto técnicos desportivos, percebamos, enquanto líderes, o impacto que determinados acontecimentos acabam por ter nos jogadores e nos adeptos. É por isso que, para além das questões futebolísticas do jogo, o dia seguinte se torna tão importante após um jogo destes. E o que há pela frente para esta equipa? Um novo jogo amigável, com um adversário muito mais fraco. A arte do jogo amigável gosta.