Mudar de clube

Em início de temporada, chegam notícias de transferências de jogadores e jogadoras que, no seu processo de formação, decidem mudar de clube. Existem muitas razões pessoais para explicar estas situações, mas queria focar-me, neste primeiro artigo da época, nas transferências de atletas com reconhecido potencial.

Para começar, estes atletas são aliciados desde muito cedo na temporada. Após um jogo melhor conseguido frente a uma das equipas que luta pelo título ou numa ida à seleção distrital, começam os contactos, ora com o atleta, ora com os pais, sobre a possibilidade de mudar de camisola. Para este aliciamento usa-se, quase sempre, a possibilidade de ganhar mais vezes, ter treinos com melhores jogadores, logo mais competitivos, estar mais perto dos observadores das seleções nacionais.

No entanto, quando falamos de desporto de formação, muitas destas questões são laterais, sem grande peso naquilo que será o futuro do atleta.

  • Estar numa equipa que ganha mais vezes pode não ajudá-lo a evoluir porque fica condicionado, no tempo e na forma de utilização durante a competição (numa equipa que concentra os melhores jogadores, cada um deles joga menos minutos e toma menos decisões).
  • Ter treinos com melhores jogadores é estar a condicionar a nossa motivação a fatores externos. Na formação, não se trabalha para ser melhor do que X ou Y, trabalha-se para ser o melhor possível.
  • Dificilmente encontrarão casos de atletas que se verão excluídos de uma seleção, sendo melhores, por não estarem no clube mais competitivo. Os selecionadores não abdicam de talento quando, num treino de observação, todos fazem já parte da mesma equipa.

Existem ainda mais dois pontos fundamentais que os educadores devem tomar em linha de conta nestas situações. Sobretudo numa modalidade amadora, as equipas que têm melhores resultados nem sempre são aquelas que têm os melhores treinadores ou as melhores condições humanas para o alcançar. Mais, no caso de Portugal, por vezes nem em condições logísticas estão acima da concorrência. É bom, por isso, entender quem são os clubes que realmente formam jogadores e quais são os clubes que funcionam, apenas, como agregadores de talentos. As diferenças são enormes.

Para o bom desenvolvimento de um atleta, as condições de descanso são fundamentais. Por isso, será bom também ter em linha de conta que, quando estamos a transferir o nosso filho ou filha para um clube a maior distância de casa, as horas de sono, as horas de repouso, as refeições, são tudo coisas que serão alteradas também. Tenham isso em linha de conta para escolher o melhor.

Já sabemos que este ano, como sempre, vamos ver muitos atletas a mudar de camisola para a nova temporada. Que a vossa escolha tenha sido feita com sabedoria e que os resultados sejam os melhores!

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