Nas bancadas de um campo de futebol ouve-se todo o tipo de teorias sobre como organizar uma equipa. Mas se há coisa que parece irritar o verdadeiro “treinador de bancada” é que a equipa não jogue “para a frente” e que não remate e marque golos “fáceis”. Se um treinador pretender seguir as várias sugestões que de bancada vão chegando para colocar os jogadores que mais correm, os que mais rematam e os que não andam “para ali a dar toquezinhos na bola”, rapidamente perceberá que, por vezes, a melhor maneira de agradar à bancada não é a que leva mais diretamente à vitória.
Escrevia sobre isso no twitter, na tarde deste sábado, olhando para um jogo disputado em 1993. O futebol tornou-se muito mais complexo na forma de abordar o confronto com a outra equipa e, sobretudo, na maneira de pensar o espaço e as suas ocupações. No entanto, para muitas das pessoas que vêem o futebol, continuam a ser onze contra onze.
Mas não são, mesmo que, quando descemos a divisões secundários, como o Campeonato de Portugal Prio, ainda nos é possível ver conviver os dois tipos de pensamentos.
É por isso um alívio quando encontramos ideias em contextos difíceis. Percebe-se que as boas ideias têm caminho sempre complicado quando há necessidade de obter resultados, até porque os próprios jogadores não estarão, sempre, identificados com as diferentes maneiras de jogar o jogo. Mas, no caso, a equipa do Torreense, uma vez conseguido o controlo do jogo, entendendo, sobretudo, a forma como o adversário se fechava e perdendo o receio de defrontar uma equipa que vinha de duas vitórias, conseguiu demonstrar que as boas ideias têm lugar.
Beneficia, sobretudo, de ter no seu plantel uma série de jogadores que ultrapassam o escalão onde jogam, pela sua qualidade. Mas também se entende bem que, nesse contexto, nem sempre o jogador é o suficiente. Porque se em termos coletivos não é lançado um modelo que acomode as suas qualidades, perde-se facilmente a qualidade em detrimento do duelo. Mas ver trocas de bola, capacidade de ameaçar no corredor central e de evoluir na mudança de faixa, perceber que há um entendimento posicional, é uma espécie de contacto com o ar puro num lugar onde “a atitude, o remate fácil e a correria” ainda fazem as delícias dos adeptos.