Pode não parecer evidente, mas é a estatística que nos leva a estar aqui em pensamento contínuo sobre aquilo que acontece no jogo de futebol. Desde cedo na história do jogo se procurou noutras ciências formas de chegar às vitórias e, nos nossos dias, não podemos negar a influência exercida sobre o jogo de múltiplos pensamentos e ciências que o levam a ser jogado, cada vez mais, em complexas inter-relações entre elas.
A análise do jogo cresceu a partir do entendimento do mesmo como um sistema complexo, onde a aleatoriedade tem um enorme peso. No entanto, aleatório não significa imperscrutável, pelo que o atrativo do jogo passa por criarmos esquemas que nos permitam entender a imprevisibilidade do mesmo. De certa forma, aquilo que todos fazem no jogo de futebol (jogadores, treinadores, analistas, adeptos,…) é procurar maneiras de vencer o acaso.
A estatística está presente em todos os momentos da análise do jogo. Porque para o jogar estamos em permanente coleta de dados, porque crescer no jogo implica medir esses dados, estabelecer estimativas e testá-las, entendendo as relações entre as diversas variáveis e aplicando hipóteses que nos ajudam a perceber da validade das nossas escolhas.
Ora, como escrevia Marek Kwiatkowski há alguns meses atrás, a ciência da análise do jogo está perante um problema de imaturidade, o da falta de um desenvolvimento teórico. Não estando criada uma linguagem de análise do futebol que permita uma argumentação e uma comparação que leve à sua evolução. O resultado disso, para este autor, é estarmos “a coletar factos isolados, em lugar de construir um corpo de conhecimento coerente e expansivo”.
Para Kwiatkowski é a “dinâmica quantitativa do futebol” que continua a ser a área mais inexplorada desta ciência da análise. Uma conclusão em tudo semelhante à de um grupo de académicos portugueses, liderados por Hugo Sarmento, do ISMAI, chegaram numa revisão de literatura sobre a análise do jogo conduzida em 2014, afirmando, na sua pesquisa, que
o trabalho sobre a análise do jogo tem-se focado, predominantemente, no uso de descrições simples e associações entre variáveis, levando à investigação do fenómeno sem considerar os aspetos dos sistemas complexos, dinâmicos e interativos, que poderão caracterizar melhor o rendimento num jogo de futebol.
Assim, se quisermos ser corretos na forma como estabelecemos aquilo que fazemos no futebol, temos que considerar que a estatística, não só está intimamente ligada a todos os aspetos da análise (toda a organização, ofensiva e defensiva, é estatística – todos os sistemas de jogo são estatística – todas as ações de jogo são estatística), como está nela a chave para encontrarmos respostas mais completas sobre os problemas e desafios que o jogo nos lança.
Aquilo que não podemos é, uma vez retirados resultados desta análise, correr a cristalizar certezas a partir de uma recolha de dados mínima. Aquilo que não podemos é, uma vez aprendida a forma de ler e aprendidos os números, esquecer que vai ser preciso aprendermos a ler os números.