Jorge Jesus tem razões para ficar satisfeito, depois de frente ao AS Monaco a sua equipa ter dado uma resposta muito positiva. O Sporting trabalha com dois objectivos em vista, parecendo certo que o encontro do playoff da Liga dos Campeões surgir como o principal, nesta fase da época, sem descurar o modelo que a equipa pretenderá ter durante o resto da temporada. Não é uma questão contraditória – não se conhecendo o adversário, percebe-se que o nível competitivo será sempre alto, levando a equipa a ter dinâmicas defensivas bem desenvolvidas neste primeiro mês de competição, mas marca o espírito do tempo.
Nos processos consolidados pela equipa, a proximidade do quarteto defensivo quando a equipa não tem a bola, fechando o corredor central e “puxando” Gelson Martins e Acuña para o preenchimento das faixas laterais. Respirando as tendências do momento, o Sporting poderá aparecer muitas vezes com uma linha de seis jogadores. O bloco foi mais baixo e compacto do que se esperará ver ao longo da temporada, mas parece intencional que a equipa não tenha pressionado excessivamente o Monaco no meio-campo contrário. Ao invés, se o jogador em posse não apresentava uma capacidade de passe apurada, tentava cerrar o bloco para impedir trocas entre linhas, mas revelando algumas dificuldades no controlo da profundidade.
Outro processo que se demonstrou perto da consolidação é a dinâmica de troca de posições da equipa. Daniel Podence como segundo avançado permite à equipa ter uma forte capacidade de troca de posições. Acuña, Gelson Martins e Bruno Fernandes apareceram muitas vezes por dentro, a procurar zonas de finalização, com o primeiro golo dos leões a surgir de um lance assim. Podence é um jogador muito inteligente na forma como gere o seu posicionamento e dá resposta ao contexto da equipa. Gelson Martins foi brilhando na forma como desestabilizou a defensiva adversária. Também no meio-campo esta dinâmica se encontrou. Rodrigo Battaglia mantém a tendência de tentar avançar com bola, sendo necessário que Bruno Fernandes saiba movimentar-se de acordo com as decisões do argentino. Estas situações exigem bastante da linha defensiva da equipa.
Aqui está uma das fragilidades do Sporting, neste momento. Percebe-se que a ordem fundamental é não errar – logo, não arriscar, está subentendido. Nem Piccini, nem Fábio Coentrão apareceram muitas vezes a dar profundidade nas faixas. Como Acuña tem uma ética defensiva mais desenvolvida, Fábio Coentrão não se viu muito exposto a situações de 1v1, tal como aconteceu com Piccini. Pelo seu posicionamento mais interior, o italiano pareceu, quando a equipa não tem bola, quase um terceiro central. Terá ainda que trabalhar mais o seu posicionamento para conseguir dar resposta às necessidades.
Outra das questões de posicionamento está na posição 6, onde Rodrigo Battaglia parece estar a reaprender como jogar. Muito positivo a forma como se coloca na primeira fase de construção, bem mais entre os centrais do que nos jogos na Suíça, permitindo melhor circulação e oferecendo espaço para a penetração na primeira linha do adversário. O argentino não deverá beneficiar de toda a liberdade que gostaria de ter, porque as suas subidas no terreno, apesar de poderem oferecer uma opção de desequilíbrio à sua equipa, têm também um lado negativo em termos de exposição que, nesta fase inicial, não deverá ser o desejo do seu treinador.
De notar, também, que deixar William Carvalho e Adrien Silva no banco, neste encontro, poderá ser um claro sinal de que os dois internacionais poderão estar de saída. Mas também não deixa de ser interessante perguntar se, no momento de enfrentar o playoff da Liga dos Campeões um ou dois destes nomes ainda estiverem em Alvalade, como isso mexerá com as opções de Jorge Jesus. William dá muito mais segurança defensiva do que Battaglia, mas impõe outras necessidades de movimentação a Bruno Fernandes. Adrien Silva talvez não tenha tanta disponibilidade ofensiva como o ex-jogador do Sampdória. Perguntas à espera de respostas nas próximas semanas.