Quando o jogador não compreende o jogo

Para que é que eu vou entrar? Não precisamos de um empate, precisamos de ganhar!

Daniele De Rossi

Quando durante a segunda parte do Itália – Suécia, Daniele De Rossi se recusa a ir para o aquecimento porque a sua equipa precisava de uma vitória, percebe-se que o problema dos italianos é muito mais profundo do que falhar um Mundial. Há uma geração de estatuto intocável na equipa transalpina que não compreende o jogo.

Giampiero Ventura foi o homem que aceitou o presente envenenado de pegar numa equipa a precisar de revolução. Depois de Antonio Conte alcançar pequenos milagres resultadistas com a equipa italiana, o terreno estava minado. Era necessária uma mudança que acompanhasse o ar dos tempos da Serie A, mas ninguém parecia disponível para se sentar no lugar do condutor.

O técnico italiano terá cometido muitos erros, mas ao procurar ter De Rossi como opção na segunda parte, talvez estivesse a ver aquilo que muitos de nós víamos no confronto com os suecos. Dado o recuo da equipa adversária no terreno de jogo, a ideia dos três centrais (daqueles três centrais…) não trazia propriamente uma vantagem, era preciso mais gente com capacidade para criar jogo e espaço entre as linhas dos suecos.

O “guardiolismo” arruinou toda uma geração de defesas italianos. Agora todos olham para o ataque, nos cruzamentos não há centrais daqueles que intimidam o rival, está a perder-se a nossa tradição

Giorgio Chiellini

Daniele De Rossi, tal como Chiellini há uns dias, demonstrou viver numa dimensão da observação do jogo que tem sentido perante o conhecimento que se tem do mesmo nos nossos dias. Não depende do número de avançados, tal como não depende da capacidade de intimidação dos defesas, o sucesso de uma equipa. Aliás, ao contrário do que Chiellini parece pensar, nunca houve, sequer, uma tradição italiana de defesas intimidantes. Nos últimos grandes sucessos da seleção ou das equipas italianas, Scirea, Baresi, Maldini ou Cannavaro apresentam um modelo bastante distante dessa descrição.

Quando o jogador de futebol, no seu tempo, já não compreende todas as matizes do jogo, as dificuldades que se impõem a uma equipa são muito maiores. Para a Itália, esta demora em entender que as ideias que habitam a Serie A deveriam encontrar lugar na Nazionale, vai fazer com que falhem um Mundial sessenta anos depois. Talvez se tenha criado, num dos momentos mais dramáticos da sua história, o espaço ideal para começar o novo.

 

Nota: Acrescentado um tweet com dados de Itália no Euro 2016 às 12:24 do dia 14/11/2017 

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