Semana 20 – Num percurso feito ao longo de uma temporada, é normal que questões ligadas à confiança de um grupo possam sofrer altos e baixos. E mesmo se todos os manuais e discursos de grandes treinadores nos invadam com a ideia de que um líder é aquele que mantém sempre elevada confiança no seu trabalho e que consegue transmitir uma grande certeza para aqueles que o seguem no seu caminho, a realidade é outra: a crise deve ser encarada como uma companheira de viagem, para que o seu aparecimento não resulte numa quebra do trabalho realizado, mas sim numa oportunidade para a renovação e para o aparecimento de novas lideranças dentro do grupo.
Somos humanos, os treinadores, os seccionistas, os pais e os jovens atletas que, para mais, convivem com tudo isto na fragilidade da sua personalidade e imagem em criação. Não será por isso de espantar que os momentos de confiança e concentração pareçam, a determinado momentos, escassos, frágeis, quase inexistentes. Esta semana, a minha equipa voltou a deparar-se com isso mesmo. Mas, uma vez mais, da crise surgiu a oportunidade para o crescimento. O adversário que tínhamos pela frente era complicado e superior em diversos aspetos. Numa semana em que algumas ausências eram inevitáveis, doenças e lesões puseram-se também no meio do caminho. O quadro era negro mas foi no próprio balneário que começou a encontrar-se solução.
Por vezes a motivação está longe de ser um bem coletivo, mas sim feita de mosaicos individuais. Pode ser a motivação de querer “oferecer” a um familiar uma boa exibição, como pode ser a motivação de querer “provar” a alguém a injustiça de uma decisão passada. Pode ainda ser a vontade de se superar acima de uma dor ou a resposta ao reconhecimento que é poder estar mais minutos em campo. Tudo isto são coisas de mínima importância perante o quadro geral de uma equipa num jogo. Mas cada uma, na sua consistência e preponderância pessoal, acaba por ganhar um tamanho enorme, permitindo que a equipa se demonstre numa outra face, com uma liderança renovada, com uma sensação de dever cumprido perante as dificuldades.
Digo muitas vezes que o meu trabalho nestes escalões não é feito para meu proveito. E em semanas como estas tenho a total noção disso mesmo. As pequenas sementes que o ultrapassar destas dificuldades vão enraizando só poderão dar frutos daqui a alguns anos. Algumas delas até os veremos em algum pavilhão, num jogo de basquetebol, mas outra parte delas, talvez a maioria, acabará por florescer noutros campos, o da vida pessoal, o da vida académica, o da vida profissional. É por isso mesmo que não desisto.
Amanhã há treino.