A ideia de “cultura de jogo” marca, muitas vezes, presença no discurso de quem ambiciona a gravar princípios identificativos no seu processo de treino ou no seu projeto de clube. É desse modo que entra, também, no discurso daqueles que se identificam com os princípios entendidos, seja na forma de gerir ou liderar um clube, seja na forma de jogar a partir da forma como se treina. No entanto, ao buscar a formação da sua própria “cultura de jogo”, muitos dos que usam este conceito, esquecem-se de que, no essencial, a cultura de jogo é uma cultura geral.
A cultura geral é um saber que permite a um indivíduo construir o seu próprio critério, analisar assuntos diversos e responder, com êxito, em diferentes facetas da vida quotidiana. Tomando estes princípios, a cultura de jogo será um saber que permite a um indivíduo construir o seu próprio critério, analisar os diversos assuntos relativos ao jogo e responder, com êxito, em diferentes facetas da sua análise.
Tantas vezes, no entanto, se prefere identificar a cultura de jogo como algo específico. Assume-se assim que esse saber é, já em si, criado dentro de um critério próprio, permitindo-se o indivíduo enquadrar os diversos assuntos relativos ao jogo para que as suas respostas introduzam diferentes facetas na análise.
A cultura geral pode ser construída através de estudo sistematizado, na escola, na universidade, bem como pode partir de uma educação informal, ou autodidacta, qualquer uma delas conjugada com a experiência adquirida ao longo dos anos. A cultura de jogo também pode nascer da mesma sistematização, bem como pode ter uma raiz autodidacta, sendo que ambas são perfeitamente enquadráveis com experiências vividas.
Ora bem, quem entende a cultura de jogo como uma cultura geral, não raras vezes parece tomado mais pelas dúvidas do que pelas certezas. É inevitável. O futebol é um processo onde a evolução cabe dentro de um quadro de coexistência com as suas formulações mais retrógradas, sendo perfeitamente admissível que, numa mesma competição, percepções muito diferentes do fenómeno (seja no jogo, seja no treino) possam coabitar, mesmo numa época onde a massificação do jogo e o acesso a fontes de origem muito diversa se facilitou.
O que também ocorre, ainda, com demasiada frequência é o entendimento desta mesma cultura geral como se de uma cultura específica se tratasse. Ou seja, para cada dúvida criada a partir da análise ou entendimento do jogo, saca-se da cultura como uma ordem específica de explicação de fenómeno, utilizando demasiadas vezes a qualificação de “certo”/“errado”, “bom”/“mau”, quando o jogo, aquilo que pende, é um entendimento global da sua ação complexa. O específico, per si, não nos ajuda a ter mais certezas do que dúvidas, no fundo, apenas mascara as nossas fragilidades.
Não é isso o que se quer. O jogo, complexo em si e no desenvolvimento teórico-prático que vai tendo com o aumentar da qualidade de análise, não aceita certezas, nem máscaras. O jogo quer, isso sim, que todas as dúvidas sejam sempre tratadas e entendidas como possibilidades de inovação e superação. Com o cérebro, claro está, a primar sobre o físico.