Sporting – uma questão mental

O Sporting recebe o Basaksehir na primeira mão dos 16-avos de final da Liga Europa, esta tarde, em Alvalade. Battaglia, na conferência de imprensa de antevisão, afirmou que a equipa leonina se sente sempre favorita. Mas este jogo recoloca o Sporting perante a questão mental que se acentuou na presente temporada. 

Uma longa história

A dimensão mental do problema Sporting tem já várias décadas e não se resume, como muitas vezes se quer fazer crer, em recentes presidências ou incidentes que envolveram o clube. O posicionamento do conjunto leonino como uma terceira via de um conflito que, no futebol português, radicalizou posições do FC Porto e do SL Benfica a partir dos anos 80, enclausurou o clube, a sua capacidade competitiva e, ao longo dos anos, também a capacidade financeira e estrutural para se medir com os rivais. 

A dimensão nacional do clube não foi colocada em causa, na verdade, mantendo ao nível dos seus adeptos (por muito divididos que se demonstrem as bancadas de Alvalade) uma capacidade de suporte para se anunciar como um terceiro grande. Mas no que toca à dimensão do seu futebol, a capacidade competitiva vive, há muito tempo, em claro défice, que nem o investimento lançado por Bruno Carvalho no momento da contratação de Jorge Jesus foi capaz de mascarar.

Acumular de erros

Olhar para a lista de convocados do Sporting para a partida de hoje é confrontarmo-nos com um acumular de erros que parece não ter fim para os lados de Alvalade. O plantel tem disponíveis dois guarda-redes muito jovens saídos da formação. Uma linha defensiva onde o voluntarismo de Ristovski e Coates vêm disfarçando problemas maiores. Um meio-campo onde Doumbia, Eduardo e Wendel se demonstram muito curtos para as necessidades criativas e construtivas da equipa. Uma frente de ataque onde o emprestado Bolasie, pela sua experiência, ainda vai comendo minutos a projetos de jogadores que surgem em bom momento de forma como Jovane ou Gonzalo Plata. 

Fora das opções, por motivos vários, Renan, Mathieu, Rosier ou Luiz Phellype acrescentariam à qualidade deste grupo, mas não de forma decisiva (à parte do veterano central francês). Pela frente terá, hoje, um conjunto do Basaksehir com dezoito jogadores do seu plantel como internacionais AA pelos seus países, uma larguíssima experiência competitiva a todos os níveis, o segundo lugar e a capacidade de lutar pelo título numa Liga bastante exigente. A única coisa que não soa tão evidente no clube turco é o seu nome, já que Basaksehir ainda procura a sua afirmação europeia. Mas a ligação ao Presidente Erdogan deveria fazer desconfiar até o mais distraído nestas questões de poder. 

Questão mental

Como vem sendo provado ao longo das últimas épocas, o descrescer de qualidade do futebol da Liga portuguesa não impede a capacidade de competir a nível europeu. Habitualmente, nos encontros da Liga dos Campeões e da Liga Europa, as equipas portuguesas procuram uma afirmação que prolongue a sua narrativa comunicacional. O Sporting, no entanto, parece, nesta fase, estar mais dependente dessa afirmação do que alguns dos seus rivais. Fora das disputa das Taças nacionais, com uma realidade na Liga NOS que o empurra para fora do pódio, a Liga Europa é uma solução que o próprio Jorge Silas colocou como possibilidade de ser conquistada. 

Ser favorito é, assim, uma forma de enfrentar uma eliminatória complexa e exigente, frente a um adversário que dificilmente permitirá grandes espaços para um domínio muito assertivo em Alvalade. Para além disso, ao jogar primeiro em casa, o Sporting tem a necessidade de ser uma equipa mais proativa na partida. Tudo exigências que o Sporting, em termos práticos, tem tido dificuldades para colocar em campo, sobretudo depois da saída de Bruno Fernandes. Por isso mesmo, quando Rodrigo Battaglia fala, não é tanto um teste que se coloca à posição do treinador ou dos jogadores atuais do Sporting, é mais uma questão que todo o universo leonino deverá fazer a si próprio: o que estão dispostos a oferecer para a estabilização do clube?

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